Proposta de Emenda à Constituição 287, que trata do tema, ainda está em
análise na Câmara dos Deputados e deve ser apreciada pelos senadores no
segundo semestre deste ano
Consultores legislativos do Senado consideram que alguns aspectos da
reforma previdenciária defendida pelo governo terão impacto negativo no
País, sobretudo na vida dos trabalhadores em situação precarizada, que
possuem menor nível de escolaridade e de menores rendimentos, mulheres e
negros. A Proposta de Emenda à Constituição 287, que trata do tema,
ainda está em análise na Câmara dos Deputados e deve ser apreciada pelos
senadores no segundo semestre deste ano.
Responsáveis pelo boletim "(Des)proteção social: impactos da reforma da
Previdência no contexto urbano", os consultores Joana Mostafa e Mário
Theodoro avaliam que, levando em conta a rotatividade média e o tempo
médio de desemprego no Brasil, a exigência de pelo menos 40 anos de
contribuição significa 53 anos de vida laboral ativa, enquanto o mínimo
de 25 anos de contribuição equivalem a 33 anos de vida laboral ativa.
"São números que denotam a perversidade e a falta de perspectiva social
da PEC 287", concluem.
Os consultores destacam como principais alvos de crítica ao texto o fim
da modalidade de aposentadoria por tempo de contribuição (ATC) para o
Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e a ampliação de 15 para 25
anos do tempo mínimo de contribuição para o acesso ao benefício da
aposentadoria. "Ambas as propostas terão impacto deletério para o regime
público de previdência social brasileiro, sua sustentabilidade, a
inclusão e a garantia de benefícios pelos trabalhadores brasileiros",
dizem no estudo.
Para os consultores, a mudança do tempo mínimo de contribuição para
acesso à aposentadoria pode desorganizar o sistema público, dificultando
o acesso de trabalhadores em situação precarizada e facilitando o
cumprimento do período mínimo para aqueles que possuem condições mais
estruturadas.
Já a ampliação da carência de 15 para 25 anos para acesso à
aposentadoria no âmbito do RGPS urbano, segundo os pesquisadores, pode
gerar "altos patamares de exclusão previdenciária", principalmente entre
mulheres, negros e trabalhadores menos escolarizados e de menores
rendimentos.
"Estimamos com base nas concessões de 2014 que 40,6% de todos os
contribuintes urbanos não conseguirão ter acesso à aposentadoria se a
carência for elevada para 25 anos. Ademais, essa exclusão será maior
entre as mulheres do que entre os homens, de 56% e 27%, respectivamente -
o que resultaria numa intensa masculinização da previdência social",
diz outro trecho do estudo.
De acordo com os consultores, a proposta quer "colapsar" dois "Brasis"
em um só. De um lado, dizem, há um Brasil com empregos mais estáveis,
salários maiores e trabalhadores mais escolarizados, formados
principalmente por homens, empregados via CLT, que se aposentam pela
modalidade de tempo de contribuição aos 55 anos de idade, tendo
acumulado 33 anos de contribuição, em média.
O "outro Brasil", que seria mais prejudicado, é composto por
trabalhadores que têm trajetórias entrecortadas por períodos extensos de
desemprego, marcadas pela informalidade e por longas jornadas de
trabalho não remunerado, que se referem a cuidados e afazeres
domésticos. Nesse Brasil, os trabalhadores são, em maioria, mulheres,
têm menor remuneração, são menos escolarizados e têm acesso à
aposentadoria por idade aos 64 anos, tendo acumulado apenas 19 anos de
contribuição, em média.
Aqui no Estadão que publicou a matéria tem uma simulação, a calculadora da providencia
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