O
ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, pediu demissão do
governo hoje pela manhã. A demissão foi motivada pela troca no comando
da Polícia Federal. A entrevista de Moro está sendo concedida no
Ministério da Justiça.
“Disse
ao presidente que não havia problema em trocar o comando da PF. Mas
para isso era necessário uma causa, um motivo concreto”, disse o agora
ex-ministro. “Não é a questão do nome. Há outros bons nomes. O problema
da troca era uma violação da promessa de que eu teria carta branca. Em
segundo lugar não havia causa para a troca. E haveria interferência
política na Polícia Federal”, disse Moro.
“Falei
ao presidente que seria uma interferência política. Ele disse ‘seria
mesmo', afirmou Moro. “O presidente me disse que queria ter uma pessoa
da confiança dele, que ele pudesse ligar, obter informações. E esse não é
o papel da Polícia Federal. As investigações têm que ser preservadas”,
afirmou. “O grande problema não é quem entra, mas por que entra”,
afirmou Moro. “Busquei uma solução alternativa para tentar evitar uma
crise política durante a pandemia. Mas entendi que não podia deixar de
lado meu compromisso com o estado de direito”, disse. “A exoneração é um
sinal de que o presidente não me quer no cargo”, afirmou.
Ele
ainda falou sobre seu futuro após deixar o governo. “Abandonei a
magistratura. É um caminho sem volta. Agora vou descansar um pouco.
Depois vou procurar um emprego. Não enriqueci, nem como magistrado nem
como ministro”.
Mudança durante pandemia
Moro
lamentou precisar fazer pronunciamento durante pandemia. “Queria ao
máximo evitar que isso acontecesse; mas aconteceu. Não foi por minha
opção”, afirmou. Ele abriu o pronunciamento relembrando a carreira e
ressaltando a importância da Operação Lava Jato. “Antes de assumir o
cargo, fui juiz federal por 23 anos, tive diversos casos criminais
relevantes e desde 2014 tivemos em particular a Lava Jato. Que mudou o
patamar de combate à corrupção no país. Aquela grande corrupção, que em
geral era impune, esse cenário foi modificado”.
“Foi
me prometido na ocasião carta branca para nomear todos os assessores,
inclusive dos órgãos policiais, Polícia Rodoviária Federal e Polícia
Federal”. O agora ex-ministro afirmou que entende as críticas que
recebeu e que seu objetivo principal era o “combate à corrupção”.
Ele
negou ainda que tivesse exigido um cargo no STF para assumir o
ministério. Moro afirmou ainda que a única condição que pediu foi um
auxílio para sua família em caso de “algo acontecesse”, pois havia
aberto mão de seu benefício da Previdência ao deixar o Judiciário. “Uma
única condição eu coloquei, não ia revelar, mas agora não faz mais
sentido esconder. Como eu estava abandonando 22 anos de magistratura,
perdia a previdência. Pedi apenas que se algo me acontecesse, que a
minha família não ficasse desamparada, sem uma atenção”, afirmou.
Segundo
Moro, ele aceitou o cargo após Bolsonaro concordar com as condições
impostas por ele. “Minha avaliação é que a aceitação foi bem acolhida
pela sociedade. Me via como também um garantidor, pelo meu passado de
juiz e meu compromisso com o estado de direito, que eu poderia ser um
garantidor da lei e da imparcialidade e autonomia dessas instituições.”
Na coletiva, ele exaltou ainda o desempenho do Ministério da Justiça no
combate ao tráfico de drogas e à corrupção. Ele citou dados como a queda
de 19% em assassinatos em 2019.
Troca na PF
Na
quinta-feira (23), Bolsonaro informou a Moro sobre a troca na PF, que
foi oficializada hoje no Diário Oficial da União. Maurício Valeixo, que
deixou o cargo, tinha total confiança do ministro. Desde o ano passado,
Bolsonaro falava em trocar o comando da PF a fim de ter maior influência
sobre a corporação.
A
postura do presidente perante a pandemia de coronavírus também pesou na
decisão do ministro. O presidente tem contrariado orientações do órgão
de saúde e provocado aglomerações em saídas por Brasília. Bolsonaro
também demonstra publicamente ser contrário ao isolamento social,
atualmente a única medida considerada eficaz de combate da doença.
Na
Polícia Federal, a expectativa é de que Bolsonaro nomeie o diretor-geral
da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, como
chefe da PF.
Com informações IstoÉ
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